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Aumento de 648% em mortes por Síndrome Respiratória Aguda pode revelar subnotificação da Covid em MG

Entre janeiro e abril deste ano, morreram 539 pessoas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em Minas Gerais; número é 648% maior que o registrado em anos anteriores

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O aumento no número de mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) pode indicar uma grande tendência à subnotificação de óbitos por Covid-19 em Minas Gerais, conforme aponta um estudo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Triângulo Mineiro. A pesquisa publicada pela Faculdade de Medicina da instituição aponta que 539 pessoas morreram no Estado entre janeiro e abril deste ano com quadro clínico de SRAG – sintomas muito semelhantes aos da infecção por coronavírus. O número é cerca de 648% maior se comparado com os registrados no mesmo período de três anos anteriores, de 2017 a 2019.

A preocupação é que esse aumento estrondoso corresponda também a uma séria subnotificação das mortes por Covid-19 em Minas Gerais, como esclarece o professor Stefan Vilges de Oliveira, que coordena o estudo. A ausência de testes é, mais uma vez, apontada como responsável pela fragilidade dos dados expostos diariamente pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).

“Nós observamos que há neste ano um excesso de mortes causadas por SRAG, pneumonia e insuficiência respiratória em Minas quando comparados os números com os de anos anteriores. Nós entendemos que são casos sem diagnósticos que potencialmente poderiam ser casos de Covid-19 e que não foram eventualmente registrados de forma correta ou que não receberam diagnóstico laboratorial”, explica.

Há principalmente, segundo ele, um excesso de óbitos causados por síndrome respiratória no começo do mês de março. A primeira morte por coronavírus em Minas Gerais, em contrapartida, só apareceu em balanço da Saúde em 30 de março. Os pesquisadores acreditam que possam ter acontecido mortes antes dessa data, o que seria justificável pelo aumento expressivo de mortes por doenças respiratórios na primeira semana daquele mês.

“Há um aumento na frequência das mortes com essas causas e que têm clínica compatível com a Covid-19 na décima semana epidemiológica, que corresponde mais ou menos à primeira de março. São mortes por quadros clínicos compatíveis com a Covid-19 e que não são classificadas como Covid-19. Isso aponta que pode existir um número subestimado de mortes”, esclarece. Relatório mais recente da SES-MG aponta para 234 mortes no Estado em decorrência da Covid-19. Estudo da UFU esclarece que apenas entre janeiro e abril morreram 539 pessoas com quadro de SRAG.

De acordo com Oliveira, o grupo de pesquisadores está preocupado que este número aparentemente reduzido de casos e mortes por coronavírus em Minas Gerais sejam usados pelas autoridades para justificar a flexibilização das medidas mais rígidas de combate à pandemia, como o isolamento social. “Nós precisamos pensar que, se os casos em que os pacientes morreram já são sub-registrados, é muito provável que os próprios casos confirmados de coronavírus em pacientes vivos, que são divulgados hoje, também estejam subnotificados”, pontua.

Segundo ele, é necessário ter em mente que os dados oficiais são frágeis. “A nossa preocupação está relacionada com a questão de as autoridades usarem esses dados para afrouxamento das medidas protetivas. Os gestores podem equivocadamente estar pecando ao optar pelo afrouxamento, sendo que os registros têm essa fragilidade da informação”, conclui.

Brasil e Minas Gerais testam pouco

Até o começo do mês de maio, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) descrevia diariamente a quantidade de casos suspeitos de coronavírus – aqueles em que o paciente apresenta quadro respiratório agudo, mas não tem diagnóstico – e óbitos investigados para Covid-19 na região. Entretanto, seguindo pressupostos do Ministério da Saúde, essas informações deixaram de ser publicadas.

A partir daquele momento, os casos suspeitos passaram a ser descritos como “síndrome gripal inespecífica”. Além dessa questão, que já pode apontar para um caminho de subnotificação em Minas Gerais, há ainda outro ponto: testa-se pouco no Estado, assim como no restante do Brasil.

“O problema da testagem é generalizado no Brasil, não é um problema específico de Minas Gerais. Esse excesso de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave com clínica compatível para Covid-19 tem sido observado em várias unidades da federação. O Ministério até orientou que os estados façam uma avaliação retrospectiva de casos para reavaliar os números que estão sendo apresentados”, defende o professor Stefan Vilges de Oliveira.

Ele acredita que a única maneira de traçar um verdadeiro panorama da pandemia de coronavírus no Estado seja testar um grande número de pessoas e avaliar os casos clínicos de óbitos de pacientes que tinham sintomas semelhantes aos da infecção. “O Brasil é um dos países que menos testam, o Estado de Minas também aparece como um dos que menos testam. Essa indisponibilidade de insumos tem fragilizado os indicadores. É muito importante ter o recurso dos testes laboratoriais para que a gente consiga entender a doença e adotar medidas mais adequadas”, disse.

A ideia de reavaliar as causas das mortes ocorridas neste ano e classificadas como Síndrome Respiratória Aguda Grave é bastante complicada, como ele explica. “Nós observamos um excesso de mortes em março, mas é pouco provável que se consiga resgatar material biológico para fazer uma contraprova, uma nova análise. Essa será uma das grandes dificuldades para as secretarias de Saúde. Mas, caso consigam material biológico dessas mortes, existe uma possibilidade muito grande de que boa parte das mortes com SRAG como causa sejam convertidos para óbitos por Covid-19”, encerra.

FonteO Tempo
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